quarta-feira, 6 de julho de 2011

VISITAS AOS ANTIGOS ENGENHOS DE SANTA LUZIA DO ITANHI

No dia 30 de junho de 2011, acompanhadas da presidente do IPTI e coordenadora geral do Plano de Gestão Participativa do Turismo em Santa Luzia, Renata Piazzalunga, visitamos as propriedades rurais que possuem significativo valor para a história de Sergipe e considerável potencial turístico para a região sul do Estado, já que foram sedes de importantes engenhos de açúcar entre os séculos XVI e XX. O objetivo destas visitas é realizar um diagnóstico sobre o real potencial de atratividade, representatividade - histórica e cultural -, estado de conservação, infraestrutura e acesso de cada propriedade rural indicada como um possível atrativo turístico de Santa Luzia do Itanhi. A primeira parte da metodologia propõe visitas de campo com registros fotográficos / audiovisuais, e levantamento de informações básicas com os proprietários presentes na ocasião e trabalhadores locais. Num segundo momento, serão enviados convites aos proprietários das fazendas para uma reunião com representantes do IPTI e do SEBRAE com o propósito de apresentar um roteiro turístico (elaborado com base nas sugestões da comunidade local e visitas técnicas realizadas) onde suas propriedades seriam os principais atrativos visitados. Após este contato inicial, os proprietários interessados realizariam, em parceria com o SEBRAE, viagens a outras fazendas que exploram o turismo rural e cultural a fim de conhecer melhores práticas, num procedimento similar ao Benchmarking [1]. Ao presenciar alguns cases de sucesso, a possibilidade de os proprietários abrirem as portas das suas fazendas para o turismo aumentará significativamente, assim como o estímulo para realizar novos investimentos com intuito de recuperar o tão valioso patrimônio pertencente ao Estado e ao povo de Santa Luzia do Itanhi.

Guiadas pelo assessor da Secretaria Municipal do Turismo, Esporte, Lazer e Cultura de Santa Luzia do Itanhi, Alencar Oliveira, iniciamos as visitas pelo Engenho Antas, situado a apenas 2 km de distância da sede de Santa Luzia. Construída no ano de 1825, o engenho do Grupo Alves Sobrinho teve participação importante na economia da época. Percebemos que a sede do engenho está em avançado estado de desgaste. Em seu interior foram inseridos móveis que descaracterizam o seu estilo colonial. Na parte externa do casarão encontramos uma chaminé do antigo engenho, partes da usina e algumas casas de trabalhadores que vivem na propriedade. Como o acesso ainda é bastante precário e não possui nenhum tipo de sinalização, é preferível ir até o local num carro com suspensão elevada e acompanhado por um conhecedor da região.


Fachada do Engenho Antas, a 2 km da sede.

Desgaste visível em partes do antigo Engenho.


Terminada esta primeira visita, percorremos mais 4 km até chegarmos ao Engenho São Félix, que foi erguido no ano de 1632 e é considerado o segundo engenho mais antigo de Sergipe. A propriedade foi tombada como patrimônio do Estado em 06 de janeiro de 1984 e passou por uma recente reforma, preservando as suas características originais. Além dos móveis coloniais, a propriedade conserva a antiga senzala na parte inferior do casarão e 250 hectares com pequenos córregos, nascentes, restinga de mata atlântica e estruturas históricas como a chaminé da antiga usina. Hoje a renda gerada na propriedade vem da criação de gado, mas segundo fomos informados durante essa visita, o proprietário Sr. Gilberto Vieira Leite Neto demonstra interesse em investir na recepção de turistas e visitantes no histórico engenho. O acesso é possível em qualquer clima, já que o mesmo se encontra muito próximo à cidade e tem a boa condição da estrada como sua aliada.


Fachada do Engenho São Félix, o segundo mais antigo de Sergipe.


Sala do casarão onde o barão recebia os seus convidados.

Quadros com imagens dos antigos proprietários do Engenho São Felix.


A Fazenda Priapu da Feira, terceira propriedade visitada pela equipe, não foi engenho no período colonial, entretanto, possui a característica de ser a única fazenda em Sergipe a produzir cachaça envelhecida em barril de carvalho, a cachaça Reserva do Barão. Hoje sua principal fonte de renda ainda é a pecuária e agricultura, mas a produção da cachaça feita de forma totalmente artesanal é uma particularidade que nos leva a crer que este poderá vir a ser um dos atrativos turísticos “carro-chefe” de Santa Luzia do Itanhi. Um dos funcionários da Cachaçaria, Gilton Silva, nos levou para um tour e desvendou o processo de fabricação da cachaça, passo a passo. Um destino brasileiro que pode ser considerado referência na arte de atrair visitantes para contemplar a fabricação da cachaça é a Fazenda do Anil, localizada na divisa de Vassouras e Miguel Pereira - Região serrana do Estado do Rio de Janeiro. Com simpatizantes e admiradores em todo o Brasil e de outros países, para onde é exportada, a fazenda do Anil constantemente recebe visitantes para observar o processo de produção da cachaça Magnífica e naturalmente, degustá-la e adquiri-la ao final do tour. http://www.cachacamagnifica.com.br/.


Um dos passos da fabricação da cachaça: a diluição.


Sala de envelhecimento em barris de carvalho.


O produto final: Cachaça Reserva do Barão.


O último local a ser visitado foi Engenho Cedro, que está localizado a aproximadamente 25 km da sede de Santa Luzia, sendo a mais distante de todas as propriedades visitadas. Ao chegar, nos deparamos com uma enorme área verde e o antigo engenho completamente em ruínas. Descemos para fotografar e conversar com o caseiro da região, que nos indicou a casa dos proprietários na fazenda Santa Mônica. Tivemos a oportunidade de conversar com dois irmãos que herdaram aquelas terras e hoje as utilizam para a criação de gado e destino de lazer da família de Aracaju e Salvador. Ao serem apresentados ao Plano de Gestão Participativa do Turismo de Santa Luzia do Itanhi, ambos demonstraram interesse em abrir as portas da fazenda para a chegada de visitantes e turistas.


Antigo engenho em total estado de abandono.


A casa sede da fazenda Santa Mônica, dentro da região do Cedro.


O único engenho que não conseguimos entrar - já que a cancela encontrava-se trancada – foi o Engenho Castelo, cujo proprietário é o Sr. Raimundo Juliano Souto Santos. Porém, através de um trabalho de conclusão de curso realizado em 2009 pela turismóloga Leila Correia, apresentado pelo gerente da fazenda em uma das oficinas de sensibilização e mobilização da 1a etapa do Plano, pudemos conhecer parte da história e arquitetura deste engenho, assim como observar imagens de móveis e objetos de época que estão em perfeito estado de conservação. A principal atividade econômica da fazenda também é a pecuária de corte e, espalhados entre os seus 1500 hectares, destacam-se rios, nascentes, açudes, uma pequena cachoeira, mata ciliar, dentre outros. As principais vantagens percebidas para o desenvolvimento turístico nesta propriedade foram o bom estado de conservação da casa grande do antigo engenho, acesso facilitado em qualquer clima e a sua localização privilegiada na entrada do município de Santa Luzia do Itanhi.


Propriedade bem conservada e estrategiacamente localizada.


Programa Terra Serigy sobre os engenhos de Santa Luzia do Itanhi:

http://www.youtube.com/watch?v=Rj1VuWFRwPs


[1] "Benchmarking é simplesmente o método sistemático de procurar os melhores processos, as idéias inovadoras e os procedimentos de operação mais eficazes que conduzam a um desempenho superior" (Christopher E. Bogan).


Parte das informações citadas neste texto foram retiradas do artigo “A SEGMENTAÇÃO TURÍSTICA COMO PERSPECTIVA DE DESENVOLVIMENTO PARA AS COMUNIDADES RURAIS NO ESTADO DE SERGIPE”, de Klázia Kate Santana Souza Salomão / AriolinoMoura de Oliveira Neto.

domingo, 3 de julho de 2011

Visita técnica à Mata do Pau Torto

A primeira visita técnica realizada na segunda etapa do Plano de Gestão Participativa de Santa Luzia do Itanhi, realizada pelo IPTI, foi ao povoado de Pau Torto, a 12km da sede do município. Ao todo compareceram 15 participantes - representantes da sede de Santa Luzia do Itanhi e dos povoados São José, Priapu, Piçarreira, Murici e Rua da Palha. Cinco novos membros (que não participaram das etapas de sensibilização e mobilização) se uniram a nós no Assentamento Agrovila em Pau Torto, acompanhados do líder local Vandilson Santos. Como no município de Santa Luzia do Itanhi encontra-se uma das maiores reservas de Mata Atlântica do estado, fomos conduzidos a conhecer – a 1,5 km do Assentamento - parte da reserva do Pau Torto. Em aproximadamente uma hora e meia, caminhamos pela mata fechada, com pequenas e estreitas trilhas em seu interior. A reserva é bastante compacta e impressiona pela altura das copas das árvores, o que a torna uma boa opção para a exploração de atividades ligadas ao ecoturismo e turismo de aventura, como o trekking.

Liderança local faz explanações sobre a reserva de Mata Atlântica em Pau Torto.

Ao longo do caminho, parávamos para ouvir histórias de como o líquido retirado das árvores comuns na região cura ferimentos ou de pedaços de troncos que serviam como excelente defumador para casas. Apesar do nosso condutor local, Vandilson Santos, ser grande conhecedor da mata e de boa parte do ecossistema encontrado ali, ficou evidente a importância de um engenheiro florestal, biólogo ou guia de turismo especializado para ilustrar tecnicamente a diversidade que estávamos presenciando e a importância daquela experiência na vida dos visitantes que optaram por desbravar tal roteiro. Quando não há um atrativo significativo a ser alçado ao fim da trilha, como uma cachoeira ou uma vista singular, o trabalho do guia de turismo deverá ser ainda mais intensificado durante o percurso para fazer valer o esforço dos visitantes que chegaram até ali.

Comunidade local participa da trilha ecológica realizada pelo IPTI.

Em vários trechos podemos perceber a dificuldade de travessia para alguns visitantes menos experientes, pois haviam desde pequenos riachos a grandes troncos caídos pelo caminho. Com isso, observamos a importância da presença de um profissional com curso de primeiros socorros transportando um kit com as medicações necessárias para quaisquer emergências inesperadas. Outro passo fundamental é comunicar com antecedência aos participantes o tempo do percurso e as particularidades da trilha ecológica a ser realizada, assim como orientá-los sobre o uso de repelente contra insetos, protetor solar, boné, botas sete léguas e calça jeans durante todo o trajeto. O ponto fraco apontado pelos participantes do potencial visitado, além da dificuldade de alguns para atravessar trechos mais intricados, é a retirada ilegal de madeira e a considerável quantidade de lixo deixada pela própria comunidade local na entrada da Mata. (Explica-se que o motivo da prática se deve à falta de coleta de lixo naquela específica área).

Ao final da visita técnica, os participantes almoçaram no restaurante Ponto 100 localizado no povoado Priapu II (a 3km da entrada da Mata), onde foi servido com agilidade e notória receptividade, comida caseira saborosa com opções de carne, frango e camarão a R$10 por pessoa.

Almoço com a comunidade em restaurante do povoado após trilha ecológica.


Potencial turístico visitado: Reserva da Mata Atlântica

Povoado: Pau Torto

Data: 21 de junho de 2011

Tempo para a realização da visita: 3h

Número de participantes: 20

INICIANDO A ETAPA II - Junho/2011

No início da segunda etapa do Plano de Gestão Participativa de Santa Luzia do Itanhi, realizamos duas reuniões para a definição da programação a ser seguida no decorrer dos próximos meses. A primeira, em 09 de junho de 2011, ocorreu com uma representante da comunidade local, Madalena dos Santos, um representante do CONDEMS – Conselho de Desenvolvimento Sustentável de Santa Luzia do Itanhi - Edson Souza, uma representante da secretaria de Educação e Cultura, Raianne Batista e a secretária de Turismo, Esporte e Lazer de Santa Luzia, Oseane dos Santos. O propósito da reunião foi definirmos de que forma a Prefeitura Municipal poderia apoiar esta etapa do plano, quais seriam as datas dos workshops e os povoados visitados para a futura elaboração de roteiros turísticos em Santa Luzia do Itanhi e municípios circunvizinhos, Itaporanga D’Ajuda, Indiaoroba e Estância. Apresentamos uma proposta de programação e alguns detalhes foram modificados de acordo com as sugestões dos participantes da reunião. Edson Souza sugeriu que fosse realizada outra apresentação com a presença de mais representantes dos povoados de Santa Luzia e, com esse intuito, foi definido que o IPTI teria um assento na mesa da próxima reunião dos Presidentes das Associações dos Povoados de Santa Luzia do Itanhi. A reunião deu-se no dia 15 de junho de 2011, no Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município e na ocasião tivemos a oportunidade de explanar as metas e metodologia a serem aplicadas na segunda etapa do Plano de Gestão Participativa do Turismo em Santa Luzia do Itanhi. Contando com o envolvimento significativo dos representantes de diversos povoados do município, discutimos o detalhamento das visitas técnicas que serão realizadas nos povoados de Priapu I e II, Pau Torto, São José, Crasto e na sede de Santa Luzia do Itanhi. Para facilitar a comunicação entre a equipe organizadora e os participantes dos workshops, deliberamos que cada povoado seria representado por uma liderança local. Após a reunião geral com parte da comunidade, tivemos a oportunidade de sentar com a liderança eleita de cada povoado para definição do roteiro que será realizado, levando em consideração as potencialidades turísticas de cada atrativo natural e cultural a ser percorrido nestes próximos meses.