segunda-feira, 12 de setembro de 2011

DIAGNÓSTICO PARTICIPATIVO NO POVOADO CRASTO




DIA UM - 20.08.2011



TRILHA NA MATA DO CRASTO
Para a equipe realizar a trilha na Mata do Crasto, foi necessário enviar um ofício à Secretaria Municipal de Turismo de Estância, solicitando autorização de entrada nesta propriedade particular que pertence ao Sr. Jorge do Prado Leite, pai do atual prefeito do município de Estância, Ivan Leite. Como dados da SOS Mata Atlântica apontam que somente cerca de 8% de remanescentes da Mata permanecem bem preservados e a maior taxa de perda foi em Sergipe (que desmatou 50% dos 10.531 km2 de sua área remanescente), percebe-se a importância de restringir a entrada de estranhos na área preservada. Segundo o site do Instituto Amuirandê (http://www.amuirande.org.br/), esta área tornou-se reserva de proteção particular, através do decreto nº 442/89, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama), concedendo-lhe o título de primeira Reserva Particular da Fauna e da Flora do Estado de Sergipe.
A trilha ecológica foi realizada pelas duas consultoras Gabriela Nicolau e Melissa Warwick - ambas da empresa contratada pelo IPTI, AMELEE Consultoria Turística -, acompanhadas do restaurador Cristiano Lopes e de três nativos da região, o mateiro Valmir dos Santos e os participantes do Plano de Gestão Participativa do Turismo do município de Santa Luzia do Itanhi, Luis dos Santos e Erisvaldo dos Santos Silva (popularmente conhecido como Bado), considerado uma liderança local do Crasto. Nesta primeira visita, adentramos a propriedade e caminhamos por uma larga trilha em direção a uma fazenda onde nos foi mostrado uma árvore centenária, comum da região, como as maçarandubas, os jequitibás e os embiruçus. O mateiro Valmir coletou um tatu na mata para que a equipe pudesse observá-lo de perto. Segundo os guias, este tatu é popularmente chamado de Serqui e seria o menor de sua espécie. Segundo pesquisas realizadas pela consultoria, o mamífero citado é um dos mais raros do mundo, denominado cientificamente de pichociengo-menor. Porém, as características apontadas na pesquisa contradizem com a aparência do mamífero que foi encontrado. Mais uma vez percebeu-se a necessidade da presença de um biólogo ou um guia de turismo conhecedor da região durante as visitas técnicas no intuito de confirmar a veracidade dos relatos provindos dos guias locais.


Pequeno tatu encontrado na Mata do Crasto.

A segunda trilha realizada pela equipe teve duração de exatas três horas, onde pôde-se presenciar trechos com a mata mais densa e fechada. O caminho, passando por búfalos e uma área completamente queimada e desmatada, nos leva até um manguezal onde paramos para ouvir histórias dos guias e dos seus antepassados quilombolas que ali já se abrigaram. Segundo a consultoria, um barco poderia aguardar os visitantes na margem do rio e a trilha da Mata do Crasto terminaria ali, após uma hora e meia de caminhada. Ao retornar, passamos por um caminho mais largo com chão de terra plano (aparentemente aberto para facilitar o fluxo de automóveis), o que possibilitará a realização de passeios de cavalo, charrete e bicicleta durante a estada do turista no povoado Crasto.


Trilha do Crasto: um dos maiores potenciais turísticos do povoado.




GASTRONOMIA NO CRASTO

O primeiro almoço da equipe foi no Restaurante Brisa do Mar, localizado na principal rua do povoado. O estabelecimento recebeu, em 2001, um certificado do Festival Brasil Sabor, realizado pela ABRASEL e SEBRAE. O prato indicado pelo evento e também degustado pela equipe foi o peixe Carapeba frita à moda do pescador, acompanhado de vinagrete, farofa e salada. Apesar da organização percebida na cozinha e no entorno do estabelecimento, nota-se a necessidade existente de orientações com relação à higiene do local, na prática de segurança dos alimentos e à capacitação de mão de obra dos funcionários.

Já o almoço do segundo dia foi servido por Dona Nice, irmã do pescador e participante do diagnóstico turístico no Crasto, José Rodrigues do Santos (popularmente conhecido como “Careca”). Com a fama de ter cozinhado para famosos políticos e donos de terras da região, ela nos recebeu em sua casa e serviu peixe preparado de inúmeras formas – cozido, frito e com molho – como também catado e fritada de aratu, acompanhados de arroz branco e pirão de peixe. A qualidade da comida é excepcional e a simplicidade de todos que nos receberam é cativante. Ao ser perguntada se gostaria de trabalhar com turismo, afirmou com um certo ânimo, porém justificou em seguida que não tem condições financeiras de montar o seu próprio estabelecimento.
A típica e variada comida de Dona Nice.

Uma das indicações – não só para estes estabelecimentos, mas para todos indicados no roteiro que lidam ou lidarão com alimentos e bebidas - seria tomar conhecimento sobre o Código de Conduta das empresas do setor de alimentação fora do lar, do Programa Qualidade na Mesa. “O Código define valores e princípios que nortearão a atividade desenvolvida pelo setor de alimentação fora do lar e suas relações com os diversos públicos de relacionamento, como fornecedores, clientes, comunidade, entre outros.

Ele abrange ainda os campos mais vulneráveis e importantes para o segmento, dentre os quais se destacam a implementação das Boas Práticas para fabricação e manipulação dos alimentos e o combate à exploração sexual infanto-juvenil.

Fonte:http://abrasel.com.br/docs/codigo_conduta.pdf

A sugestão dada pela consultoria é que donos de bares e restaurantes partícipes do roteiro turístico de Santa Luzia do Itanhi associem-se à ABRASEL/SE – Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, o que proporcionará aos estabelecimentos os seguintes benefícios:
Participação em eventos promocionais como o Brasil Sabor Brasília;
Promoções: seminários, cursos e palestras, estandes em feiras do setor, nos estados;
Assinatura da revista Bares & Restaurantes;
Apoio ao desenvolvimento da gastronomia, do setor de eventos e planejamento do calendário gastronômico turístico;
Parceria com o SEBRAE SE, onde se criou a Gestão Estratégica Orientada para Resultados de Bares e Restaurantes, que elabora projetos para qualificação e desenvolvimento das empresas associadas;
Parceria com o SENAC e outras entidades para a realização de cursos, voltados para a qualificação profissional da equipe das empresas associadas;
Descontos em eventos, como Congresso Nacional Abrasel;
Participação nos guias elaborados pela associação;
Trabalho junto ao setor turístico, mídia e sociedade, visando promover e melhorar a imagem do segmento;

Para se integrar ao quadro de associados da Abrasel/SE, é necessário que a empresa interessada atenda aos padrões de qualidade e qualificação exigidos pelo setor de Entretenimento e Lazer, preencha e envie à Abrasel/SE uma proposta de filiação e a partir da aprovação pela diretoria, pague mensalmente a contribuição determinada.
Fonte: http://www.abraselse.com.br/

RUÍNAS DA IGREJA DO SENHOR DO BONFIM

No começo da tarde, a equipe seguiu para o alto de uma montanha, onde há uma igreja secular em ruínas simbolizando a presença dos jesuítas na região. Segundo os guias locais, a igreja passará por um processo de restauração, mas ainda não há qualquer confirmação concreta sobre a informação. O atrativo entrará no roteiro devido à sua importância histórica e pela suntuosa vista que se tem de todo o povoado do alto da montanha, o que renderá aos visitantes valiosos registros fotográficos.
Ruínas da Igreja Senhor do Bonfim.





REISADO INFANTIL
À noite fomos à praça principal do Crasto, a Praça da Bandeira, para assistir a uma apresentação do grupo de Reisado Infantil organizada pelo comunidade. A apresentação durou em torno de 40 minutos e foi registrada pela equipe de consultoria. O grupo de crianças dançou de forma contagiante, porém ainda não aparenta estar ensaiado ou organizado o suficiente para se apresentar publicamente. Com o desenvolvimento do turismo no povoado, espera-se que os grupos folclóricos (além deste, também há o samba de coco que está inativo) recebam mais apoio do poder publico e incentivo de empresas privadas, parceiras do futuro roteiro turístico de Santa Luzia do Itanhi.


Grupo de Reisado infantil do povoado Crasto



DIA DOIS - 21.08.2011
PASSEIO DE BARCO PELO RIO PIAUÍ

Na manhã do dia seguinte realizamos para um passeio no Rio Piauí , onde saímos de um ponto onde a maioria dos barcos ficam atracados (ao lado da sede do IPTI) e seguimos em direção à Enseada, um ponto elevado de onde se tem uma bela vista do rio e do povoado. Descemos do barco e realizamos uma pequena trilha - ainda muito fechada – até atingir o topo do morro. Foi Imediatamente identificado como ponto estratégico para a instalação de uma tirolesa, levando em consideração o grau de atratividade do local e a proximidade com o rio.




Dali partimos para Olhos D’água, local onde encontra-se um aglomerado de pescadores nativos em seus barcos que passam horas do dia para recolher o seu sustento. Como a ideia do turismo de base comunitária é aproximar ao máximo o turista do morador, consideramos aquele local como ponto de parada para o visitante aprender a pescar junto com os pescadores nativos da região. Segundo o Ministério do Turismo, o Turismo de Pesca é um dos segmentos turísticos que demonstram maior índice de crescimento no mundo. No Brasil, o segmento apresenta também tendência de crescimento, já que a pesca é uma das atividades prediletas dos brasileiros. Após a prática do turismo de pesca amadora, o turista ainda poderá gozar da oportunidade de comer seu próprio peixe preparado em algum dos restaurantes indicados no roteiro.
Pescadores nativos num ponto do rio chamado Olhos D’água.

O Trapiche Velho – também conhecido como As tartarugas, devido ao registro que algumas habitam pela área – foi o terceiro ponto de parada durante o passeio de barco. Apenas um pequeno pedaço da concreto e tijolos restou para contar a história do antigo trapiche localizado na beira do Rio Piauí. Ao descer, percebemos uma imensa quantidade de cascas de ostras espalhados pelo solo. Segundo os nossos guias, os pescadores levam consigo apenas a carne da ostra, deixando para trás toda a parte não-comestível. Neste atrativo, o turista pode usufruir de uma bela vista, das histórias guardadas por trás daquelas ruínas e degustar ostras frescas retiradas do seu habitat natural naquele mesmo momento.
Único pedaço do que restou do antigo Trapiche.


Na Barreira de Cima, a quarta e última parada do passeio de barco, paramos para contemplar a paisagem e banhar-nos no Rio Piauí. Com uma pequena faixa de terra que margeia o rio, aquele ponto poderá servir como local de descanso do turista, onde poderão ser servidos algumas bebidas e mariscos preparados na hora, como camarões e peixes de pequeno porte. A estrutura, que deverá ser simples e prática, poderá ser transportada por outro barco de apoio. Ao deixar este último atrativo, o barco segue para o ponto de onde partiu, concluindo um primoroso e sereno passeio com duração de três horas.


A COMUNIDADE E O RIO


O Rio Piauí está localizado na parte sul do estado de Sergipe e possui uma área geográfica de 4.150 km2, equivalentes a 19% do território estadual. Destaca-se na produtividade de camarão cultivado, ocupando o 4° lugar em termos de área produtiva de Sergipe. A maior parte desse cultivo está localizado no município de Estância, seguido pelo município de Santa Luzia do Itanhi. Através destes dados, retirados do site www.labec.com.br/biodigital, observa-se a relevante importância que o Rio Piauí tem para o município de Santa Luzia e principalmente, para a comunidade do povoado Crasto. A maior fonte de renda da comunidade provém deste rio que, além dos problemas relacionados com os resíduos industriais, sofre danos por meio de outras atividades, como o esgoto a céu aberto, descarte de lixo, assoreamento de rios e riachos, pesca predatória, uso indiscriminado de agrotóxicos e desmatamento. Com a comercialização do roteiro turístico elaborado através do Plano de Gestão Participativa do Turismo de Santa Luzia do Itanhi, espera-se que a comunidade conscientize-se do quão importante o rio é para eles e para o desenvolvimento do turismo na região. Conforme os princípios do Turismo Comunitário da Rede Turisol, o turismo respeita as normas de conservação da região e procura gerar o menor impacto possível no meio ambiente, contribuindo com os projetos de manejo sustentável de recursos naturais, recuperação de áreas degradadas, utilização de energias renováveis, educação ambiental e destinação de resíduos sólidos.




VISITA AO IPTI

O IPTI – Instituto de Pesquisas em Tecnologia e Inovação – possui a missão de promover, continuamente, um ambiente favorável à pesquisa e à inovação, por meio da associação de atores multidisciplinares, com vistas a oferecer soluções integradas entre tecnologia e processos humanos. Como possui uma sede fixa no povoado do Crasto, o instituto faria parte do roteiro turístico com o propósito divulgar suas instalações e apresentar aos visitantes os projetos ainda em desenvolvimento, como o Arte com Ciência, Educação Inclusiva, Ampliação e Fortalecimento da difusão de Tecnologias Sociais através das redes virtuais de conhecimento, o futuro Museu Guigó, o Cultura em Foco e sobretudo, o Plano de Gestão Participativa do Turismo do município de Santa Luzia do Itanhi.



OBSERVAÇÃO NOTURNA

Mais uma opção oferecida ao turista durante a sua estada no Crasto será a observação noturna, atrativo oriundo de um dos projetos do IPTI designado Arte com Ciência, cujo tem como objetivo consolidar uma metodologia re-aplicável de aprimoramento do ensino e da aprendizagem de ciências exatas e naturais. Como destino referencia, pode-se considerar o Turismo Astronômico que acontece durante o Circuito Turístico da Mantiqueira, onde o programa de observação do céu noturno com auxílio de telescópicos poderá começar no fim do dia e prolongar-se noite adentro. Para o completo entendimento e aprendizado, astrônomos experientes fazem uma explicação sobre o céu e suas constelações ao redor do fogo. O visitante encontra no evento, uma rara oportunidade de ver o espaço cósmico com a ajuda de equipamentos e discutir temas como estrelas, planetas, sistema solar, principais constelações, satélites artificiais e tecnologia espacial, corpos celestes, meteoros, ufos e buraco negro.

“Muitos dos milhares de pontos de luz que vemos no céu noturno têm nome, classificam-se dentro de grupos maiores e todos seguem uma harmoniosa ordem universal. A descoberta do nosso sistema solar é acessível a qualquer um de nós, e com certeza ela vira acompanhada de muita satisfação após a observação de elementos tão belos e interessantes, certamente esse é um pensamento que muitos levaram depois dessa breve viagem pelo cosmos.”





OPÇÕES DE PERNOITE NO CRASTO

Após a observação noturna, o turista poderá ter acesso à acomodação num camping com a infraestrutura necessária: banheiros, chuveiros, venda de alimentos e bebidas no local e segurança 24h. Deverá ser realizado um levantamento de terrenos próximos ao rio que poderiam servir como futura área de camping, assim como de moradores que demonstrem interesse em tornar-se investidores do local. Existem outras opções de pernoite no povoado, ao menos até o momento em que o camping passe a ser uma realidade. Uma delas é a Pousada e Cia. Crasto, existente no local, porém necessitando de certas melhorias. É importante fazer contato com o proprietário para avaliar seu interesse em fazer parte do roteiro (seguindo as condições do turismo de base comunitária) e assim, levantar as necessidades básicas para a desenvolvimento do empreendimento. Finalmente, existem as hospedagens domiciliares, nas quais os moradores recebem o visitante em um dos quartos da sua casa, estreitando ainda mais a relação entre a comunidade local e o turista. Os dois participantes assíduos do diagnóstico turístico realizado no Crasto, Bado e Luís, asseguraram que iniciariam uma busca para localizar interessados em fazer do seu do seu lar um futuro meio de hospedagem domiciliar.


Única pousada existente no Crasto.





Para reflexão:

Como a Mata do Crasto está cravada numa região de grande interesse turístico e agrícola, a preocupação do biólogo e pesquisador Marcelo Cardoso de Sousa é justamente a retirada de madeira clandestinamente e disfarçadamente, além da previsão da pavimentação asfáltica para o povoado Crasto, região de grande beleza turística e que para se chegar até ela, passa-se ao longo da reserva. "Projetos de expansão turística em conjunto com improvisações amadorísticas para um turismo ecológico, sem sustentabilidade, possivelmente será desastroso e terá o efeito reverso, caso não seja precedido de estudos técnicos idôneos e desprendidos de pretensões puramente político-eleitoreiras", adverte.

Fonte: http://www.amuirande.org.br/index.php?pg=biblioteca/ler_biblioteca&id=556

Bado e Careca, pescadores nativos do Crasto.

Enseada: um espaço ideal para a prática da tirolesa.

3 comentários:

  1. gostaria de saber mais informações sobre o TBC no crasto.Quando essa tipologia de turismo será implantada?

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  2. ALÉM DE SANTA LUZIA, ESTÂNCIA E INDIAROBA FORAM CONTEMPLADOS NO PLANO DO TBC? MEU INTERESSE É PELO FATO DE REALIZAR PESQUISA DE DOUTORADO ENGLOBANDO ESSA TEMÁTICA. ESTOU COM DIFICULDADES DE ENCONTRAR COMUNIDADES EM SERGIPE QUE JÁ TENHAM MATERIALIZADO O TBC.

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  3. UM BELO TRABALHO. PARABÉNS; HOJE JÁ TEMOS OS GRUPOS DE REISADO E SAMBA DE COCO ORGANIZADOS, O ARTESANATO, AS COMIDAS TÍPICAS NOS BARES E RESTAURANTE .....PODE VIM QUE AGORA PODE ATÉ PASSEAR DE BARCO.

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