

O segundo workshop de roteirização em Estância aconteceu no dia 18 de agosto. O grupo, composto por líderes comunitários, artesãos, agentes da secretaria municipal de turismo se reuniu, como de costume, em frente ao SEBRAE. De lá partimos por volta das 9h rumo ao Trapiche, localizado no bairro Porto D’Areia, local onde, segundo os moradores, a cidade de Estância teria nascido. O trapiche, localizado às margens do rio Piauí, num passado distante serviu como ponto de escoamento da produção açucareira da região. Ao longo dos últimos anos, entretanto, assumiu outras funções: serviu como restaurante, feira de produtos e artesanato, espaço de convivência e até como local para estocagem de pólvora para confecção artesanal dos tão conhecidos buscapés, que se destacam nas noites de celebração das festas juninas de Estância. Segundo relato dos moradores da cidade, uma explosão acontecida em 2007 teria arruinado o Trapiche e a utilização deste espaço por parte dos moradores.
Às margens do Trapiche, barcos de pesca coloridos e pescadores saudosos, com suas histórias e mistérios, compõem uma bela paisagem. Segundo os pescadores, caso haja interesse por parte do visitante, os barcos podem ser utilizados para um passeio pelo rio da região.
Depois de conhecer este importante ponto histórico fomos conhecer o Cristo, que se destaca numa pequena praça, onde também estão o cruzeiro e uma igrejinha. Os participantes do workshop informaram que nos dias de São Pedro, padroeiro do bairro, a comunidade celebra uma importante festa com missa e procissão que conta com a participação de grupos folclóricos como a batucada, por exemplo. Este bairro carrega nas casinhas, nas praças e nos diversos estabelecimentos marcas de uma sociedade emergente fruto da dinamicidade econômica que marcou a cidade ao longo dos séculos XIX e XX.
Saindo do Porto D’Areia fomos conhecer a Fabrica Santa Cruz, que integra o conjunto de indústrias que caracterizou a cidade ao longo do século XIX. A vista da corredeira do rio Piauí, como já imaginávamos, encantou a todos. Como a entrada a este local é restrita, não pudemos permanecer muito tempo na fábrica, deixamos para trás nossa curiosidade e a vontade de conhecer melhor este atrativo.
Da fábrica fomos conhecer a igreja Nossa Senhora do Rosário, localizada Praça Orlando Gomes (Antigo Jardim velho), que guarda no piso superior um pequeno museu com peças raras – ainda não catalogadas – de quadros, castiçais, livros, mantos de padres que possivelmente passaram pela paróquia. Sentimos a necessidade de que alguém com maior conhecimento sobreas peças expostas no museu nos acompanhasse, contribuindo para a compreensão da história que o museu se propõe contar.
A igreja Nossa Senhora do Rosário está localizada no centro de Estância, compondo um expressivo acervo histórico-arquitetônico ao lado de casarões coloniais que guardam até hoje os azulejos portugueses, marca do século XIX.
Pudemos observaralguns pontos que foram destacados pelo participante do workshop Wesley do Nascimento, entre eles, a primeira praça de moradia das famílias portuguesas, Salvador Mendonça, Alvelos e Silva. Ao longo deste passeio, uma agradável melodia podia ser ouvida ao fundo, vinda de alguns alto falantes estrategicamente distribuídos ao longo das ruas e praças Barão do Rio Branco e Largo João Pessoa.
Ao final deste passeio pelo centro histórico de Estância, fizemos uma visita rápida ao centro de artesanato, localizado na Praça Barão do Rio Branco. Neste local, cerca de 10 artesãos e artesãs comercializam produtos diversos.
Saindo do centro, Wesley nos recomendou passar no bairro Bonfim, onde realizamos apenas uma visita panorâmica.
Antes de voltarmos para Aracaju paramos no Atlântico para preenchermos com tranqüilidade as fichas de hierarquização dos atrativos visitados ao longo de todo o dia. Bem atendidos e escutando uma agradável música, terminamos o dia de trabalho degustando pastéis de caranguejo e camarão.
No dia 26 de julho foram passadas noções iniciais de turismo, de turismo de base comunitária (TBC), de sustentabilidade e segmentação turística. Este primeiro dia de sensbilização e mobilização contou com a participação de líderes comunitários dos povoados Muculanduba e Farnaval, entre eles, artesãos, proprietários de hotéis e pousadas, além dos secretários de Turismo, Luiz Carlos dos Santos e de Cultura, Juventude e Desporto, Aurenitha Morgana.
No dia 28 de julho foram passadas as diretrizes do TBC e as formas como este tipo de turismo se inserem no macroprograma do Ministério do Turismo, o Programa de Regionalização do Turismo (PRT). Diante do interesse e da disponibilidade dos participantes em seguir adiante, decidimos avançar para a etapa de workshops de roteirização em Estância. Definimos então que voltaríamos a nos encontrar no dia 04 de agosto, na parte da manhã e da tarde.
Oficinas de sensibilização e mobilização realizadas na sede do SEBRAE em Estância.
Pela manhã foi realizada uma dinâmica de grupo com os presentes, a fim de levantar as forças, oportunidades, ameaças e fraquezas existentes no município para o desenvolvimento do turismo. Os principais atrativos turísticos foram, assim, levantados: Lagoa dos Tambaquis, festas juninas, praias, casarões históricos e artesanato local. Em seguida, os principais pontos fracos foram apontados: necessidade de mais segurança e limpeza, melhorias na infraestrutura das praias e acesso aos povoados, manutenção do patrimônio arquitetônico local, entre outros.
Por volta do meio dia, a convite da Secretaria de Turismo de Estância, fomos almoçar no X-PTO, ou “X”, como é chamado este importante restaurante de Estância, que guarda lembranças de um cliente ilustre, o escritor baiano Jorge Amado, que deixou registrado numa placa seu apreço pelo local. A comida caseira e bem temperada foi elogiada por todos. Às 14h00 voltamos ao SEBRAE, onde foi apresentada aos participantes a ficha de hierarquização de atrativos turísticos utilizada pela OMT e o Ministério do Turismo. Para aprender a preenchê-la, utilizamos o Restaurante X-PTO, pontuando com uma escala de 0 a 3 cada um dos itens da ficha.
Restaurante XPTO, visitado e avaliado pelos participantes do workshop de roteirização.
No final do workshop, definimos o dia 12 de agosto, próxima sexta-feira, para realizarmos o primeiro diagnóstico participativo de Estância. Definimos que os atrativos visitados – organizados no que chamamos de Roteiro Praias – serão o povoado Farnaval, onde estão a praia e o mangue, uma mangueira de 200 anos e o restaurante de Maria José Santos Rodrigues (que nos oferecerá pastéis de aratu). Visitaremos ainda as praias do Saco, do Abaís e a lagoa dos Tambaquis. Neste dia, definiremos o segundo dia de diagnóstico, o Roteiro Histórico-Cultural, que contemplará o centro histórico da cidade, a Fábrica Santa Cruz, o Porto d’Areia, o Centro de Artesanato. Se a visita ocorrer como planejada, terminaremos este dia dançando ao som da Batucada, já que a chefe do grupo, dona Josefa Maria Santos de Assunção, tem participado ativamente das oficinas e workshops realizados no Sebrae e ministradas pela consultora em Turismo de Base Comunitária, Gabriela Nicolau.
No dia 22 de julho os diagnósticos participativos foram retomados, depois de três semanas de intervalo. Neste intervalo, aos participantes do workshop de roteirização, que aconteceu no dia 01/07, foi solicitado o preenchimento da ficha de hierarquização com cinco atrativos existentes no entorno ou no município de Santa Luzia.
Como vem acontecendo, nos encontramos às 9h em frente à Secretaria de Educação e Cultura de Santa Luzia. O diagnóstico participativo do dia 22 de julho contemplou o que chamamos “Roteiro Agroturístico”, cujos atrativos se encontram concentrados nos povoados Pau Torto I e II, São José e Priapu, situados a proximadamente 10 km da sede de Santa Luzia.
O ônibus utilizado por nós, cedido pela Secretaria de Educação e Cultura de Santa Luzia, seguiu direto para o Sítio Ebenezer, localizado no povoado Pau Torto II. A visita por esta propriedade foi conduzida pelo proprietário e participante das duas etapas do Plano, o agricultor familiar José Robério de Jesus Sousa. Ao entrarmos em sua propriedade, já em meio ao cultivo de laranjas, ele nos apresentou técnicas orgânicas que emprega para proteger sua plantação e meio ambiente em geral. Em sua propriedade o agricultor cultiva laranjeira, banana, cocos, manga, hortaliças, mandioca, batata doce, inhame, entre outros.
Perto da área de cultivo, além da casa onde moram os pais de José Robério, há três casinhas que, segundo revelou o agricultor, poderão ser destinadas à hospedagem domiciliar, caso a propriedade venha a ser explorada turisticamente. Perto das pequenas casas há um rio - que em determinados pontos chega a até 1 metro de largura – que servirá também de atrativo turístico aos futuros visitantes.
Passando o estreito rio que divide a propriedade do agricultor, fizemos um trilha de vinte minutos margeando o rio em meio à mata; uma trilha agradável, de baixo impacto, que poderia ser utilizada como opção ao visitante da propriedade Ebenezer. Cabe ressaltar que a trilha se encontra em propriedade particular, por isso devemos procurar seu proprietário a fim de averiguar a possibilidade de uso turístico da mesma.
Terminada a trilha voltamos ao ônibus e fomos conhecer a nascente do rio, que já se encontra no povoado Priapu. Verificamos que a mesma se encontra em local de difícil acesso e não pôde ser avistada por conta da vegetação alta que a encobre no momento.
Por volta do meio dia fomos almoçar na casa de Dona Rosa, uma conhecida cozinheira da região, situado no povoado São José. Ela e o seu marido foram receptivos e nos trataram muito bem. O cardápio apresentado por Dona Rosa, que incluía desde arroz, salada, feijão de corda, frango ao molho pardo, galinha caipira, farofa, carne assada a sucos naturais de graviola e laranja e sobremesas como doce de banana e doce de leite, foi elogiada por todo o grupo. Analisamos que trata-se de um local que merece ser inserido no roteiro.
Depois de uma pequena pausa fomos visitar a casa grande do antigo Engenho São José, uma casa histórica de onde pode-se avistar uma chaminé que sinaliza os tempos de plantio de açúcar. A casa que é citada como Associação Comunitária do povoado, se encontra em estado precário e, aparentemente, sem utilização. Caso seja restaurada, poderá ser utilizada como um atrativo histórico, uma sede para comercialização de produtos artesanais e agropecuários e inclusive, como meio de hospedagem.
Por volta das 14h30 fomos visitar a Cachaçaria Reserva do Barão, situada no povoado Priapu. A cachaça artesanalmente produzida aí e comercializada em todo o pais e inclusive importada para outros países. Nesta visita podemos percorrer compartimentos distintos nos quais a cana de açúcar e transformada em cachaça. O compartimento onde dezenas de tonéis são reservados por cerca de oito anos encanta e emociona os visitantes. Ao final, vemos como a cachaça é engarrafada e como finalmente se encontra para ser comercializada. Nos dias de produção, entre os meses de setembro e janeiro, o proprietário possibilita que o visitante deguste confortavelmente a cachaça. Por possuir apropriada infraestrutura, o local pode ser apontado como um dos atrativos do roteiro que será criado pelo Plano.
Terminada a visita à cachaçaria, voltamos ao ônibus e fomos visitar a horta orgânica de Priapu, onde se produz tomate, cenoura, quiabo, batata, repolho, alface, entre outros produtos orgânicos. A horta é administrada por quatro mulheres, entre elas Solange dos Santos e Maria Amália Fiel, que nos explicaram como se dá o processo de plantação, colheita e venda de tudo que é produzido por elas. O principal consumidor desses produtos é a Prefeitura de Santa Luzia do Itanhi, que destina estes alimentos às escolas municipais, e a outra parte da produção é comercializada no próprio local.
Com esta visita percebeu-se grande interesse dos agricultores da região em participar do Plano de Gestão Participativa do Turismo, cientes de que os mesmos necessitarão aperfeiçoar as condições de infraestrutura existentes para adequar-se à futura demanda de visitantes nas comunidades.